Na mulher grávida vejo a mais pura manifestação da vida, da Natureza que é selvagem e repete seu ciclo de semear-brotar-gerar-parir. Dentro do útero matriz, a vida se mantem, se conserva, pulsa conectada por um elo visceral que é metade mãe, metade cria - criador e criatura. As mutações da gestação, sejam físicas ou emocionais, são apenas uma preparação para o momento de fechamento de uma atividade que é puramente sexual - se inicia na descoberta dos corpos, na mistura de fluidos - saliva, suor, secreção - na penetração do falo, no gozo sagrado. Variações hormonais acelera respiração e frequência cardíaca, o muco nos orgãos sexuais é produzido, preparando-se para o ato de entrega: o encontro consigo mesmo através do Outro! Quando adentra o templo sagrado, o primeiro milagre acontece - o Dois volta a ser Um, para de novo ser Dois, e Quatro, e se multiplicar infinitamente, dando forma à vida. E a barriga que é nova, começa seu ciclo crescente, até atingir seu máximo de força quando se assemelha à lua cheia. Quando estiver pronto, o bebê dará seus sinais de que é chegado o momento de vir ao mundo, e a partir daí começará seu processo de individuação; antes intimamente conectado à mãe, agora ele iniciará a passos lentos seu caminhar, pouco a pouco aumentando os passos e adquirindo sua autonomia.
A hora do parto é um momento de transição entre dois mundos: a vida e a morte se encontram de mãos dadas! Pois ao nascer, um mundo se fecha-morre, o mundo quentinho e escuro do útero, para poder dá abertura para que outro viva. Assim, a mulher se encontra no limiar destes mundos - entre o céu e a terra! Se ela se entregar verdadeiramente, poderá concluir também com prazer o ato sexual que se iniciou à 9 meses atrás. Talvez seja isso o mais difícil para a mulher - a entrega! Entrar dentro de si mesma, se manter serena e aceitar a dor, relaxar, encontrar o elo de prazer que existe nesse momento...
Participei do meu primeiro parto à 2 dias atrás! Estava como aprendiz e tínhamos combinado que eu iria apenas observar. Pensava que eu ia ficar nervosa, mas no momento me senti tão à vontade e confortável, que pude ajudar de uma forma que nem eu imaginava. Eu nunca fiquei grávida, nunca vivenciei organicamente o momento do parto, mas consegui me conectar de uma forma tão forte e intensa com a parturiente, entrando em transe com ela durante seus momentos de entrega, que não tenho dúvidas que eles foram essenciais. Ainda estou em êxtase e quando fecho os olhos vejo a cabecinha de Thea saindo dentro da água (o parto foi domiciliar na água), e as palavras de gratidão daquela família ainda ecoam dentro de mim por ter ajudado e ter realmente entendido que este é verdadeiramente meu caminho!
Gratidão à Galina, Alexander e Mia por me permitirem estar presente neste momento tão íntimo deles; GRATIDÃO ETERNA à Regine Marton, enfermeira obstetra, parteira, doula, minha mestra e amiga, xamã de alma, que confiou e acreditou em mim desde o primeiro encontro - foi Xangô quem te enviou! -, Gratidão à Dra. Edilsa pelas palavras de incentivo e pelo trabalho constante e lindo com o parto humanizado na cidade de Natal - RN.
GRATIDÃO à vida por me permitir morrer neste momento sublime, por me fazer perder o fôlego com a magia de presenciar um ser chegar ao mundo de forma tão natural e fluída, respeitando o processo fisiológico que é o parto, e entendendo que acima de tudo este é um momento espiritual, onde o sangue que sai das vísceras vem carregado da sabedoria de nossas ancestrais cheias de forças. Que elas permaneçam vivas!!!!