"É tempo de se falar, mostrar e compartilhar o conhecimento das mulheres, de uma maneira mágica, mística. É tempo de as mulheres descobrirem mais sobre seus próprios mistérios - seus processos de mesntruação e nascimento e os ciclos de suas emoções. É tempo de compartilhar isso com os homens. Muitas mulheres dizem: 'O que posso compartilhar? Eu mesma não compreendo.' Bem, é tempo de elas se voltarem para dentro de si mesmas e dizer: 'O que é isto que estou sentindo? Se tivesse de explicar a alguém o que é ser uma mulher, o que diria? O que posso fazer para me tornar mais como deusa num corpo de mulher - mais uma criadora de magia?' A Deusa interior é aquela que sabe - que leva informação de um sistema para outro."

Terra: Chaves Pleiadianas para a Biblioteca Viva - Barbara Marciniak

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Teias, tramas, dramas...


Existe uma tríade estrutural que compõe o processo do parto e que é de extrema importância para o caminhar do mesmo dentro dos termos natural e humanizado. Em primeiro lugar, e talvez o mais importante dos elementos, temos a mulher grávida. Esta carrega uma complexidade de fatores que vão influenciar no desenrolar de todo o evento, sejam eles as impressões culturais e sociais do seu contexto específico, sua história de vida e todos os elementos emocionais que se encontram em sua psique, a estrutura familiar em que ela se encontra, o seu entendimento do parto em si, o seu posicionamento enquanto paciente ou consumidora nesta situação, e assim se ela está informada ou não, etc. No outro pólo desta tríade, temos o profissional que irá ajudar esta mulher a trazer seu filho ao mundo, seja ele médico, obstetriz, parteira, etc. Para este elemento existem alguns fatores que devem ser levados em consideração, em especial na sua formação em si, ou seja, como estes profissionais foram ensinados dentro da academia sobre o evento do parto, o que vai influenciar por sua vez como eles vêem a mulher grávida e como eles se posicionam frente à elas. Por fim, para fechar a tríade estrutural, temos o lugar onde o evento do parto irá acontecer - hospital, casa de parto ou domicílio. Aí devem ser levados em consideração os fatores de rotina ou não que podem estar influenciando o desenrolar desta trama que é o parto. E falo trama no sentido da complexidade de elementos dentro destes 3 elementos expostos, visto que muitos deles são questões subjetivas e paradigmáticas e por isto vão além das previsões. Em uma teia, quando qualquer um dos fios é tensionado, todo o resto reage à isto, e é exatamente o que acontece no momento do parto.

É essencial analisar as relações de poder que podem ser alimentadas por ambos os elementos da tríade. Em um mundo patriarcal, e em específico, em um país colonizado, a subserviência parece está incutida na mente da maioria das pessoas. Médico, engenheiro e advogado ainda são vistos em muitos lugares como as profissões majoritárias e, assim, o simples questionar algumas destas 'autoridades' pode causar um certo desconforto de ambas as partes, levando a uma sensação de 'desrespeito'. Mistura-se o ego daqueles que detêm o 'poder' de ter estudado vários anos para estar no status em que se encontram, com o endeusamento por parte daqueles que não se sentem capazes de confrontar com alguém que sabe tanto e tudo. E não estou aqui falando que estes profissionais de saúde não sabem nada com relação à parto natural e humanizado, mas sim que suas formações foram no sentido contrário à isto, e pode sim acontecer que até os adeptos da causa não se sintam à vontade de sair de sua zona de conforto em alguns momentos. E tudo bem, eu respeito isto, mas quando se usa da fragilidade emocional de uma mulher para justificar o seu posicionamento, aí a coisa muda de figura. Ainda mais quando o médico se diz adepto da causa e a mulher também, mas com dificuldades em transpor as barreiras entre questionar e desrespeitar a tal autoridade; e esta, mesmo que adepta da causa, ainda assim empurra goela abaixo justificativas esdrúxulas com base no seu poderio médico, abusando do elo de confiança que foi criado entre as duas partes, e uma confiança baseada nessas relações de poder doentias.

Eu, enquanto doula, me sinto mutilada e extremamente frustada, independente do resultado do parto, porque no final das contas a mulher estava tomando uma decisão camuflada de todas as formas pelo médico de que não havia outra escolha. O que me faz refletir dentro de todo este quadro é o quanto estamos lidando com uma questão de paradigma nesta teia complexa que é o evento do parto e o quanto é preciso que todos os elementos que compõe a tríade estrutural mude seu paradigma e a forma de ver o mundo; não porque a única e melhor alternativa seja o parto domiciliar, natural e humanizado, e optar por isto é está mudando de paradigma, não! Aliás, temos que saber o limiar tênue dessas escolhas, para que elas não se baseiem em modismo, mas sim na aceitação de que o parto é um momento de transformação e que a mulher precisa estar preparada pra isto. Falo de mudança de paradigma à nível interno, com a mulher se colocando como protagonista do processo, se informado e estando pronta à lutar por seus direitos, e os profissionais e estruturas de saúde respeitando isto.

É preciso desdramatizar as situações e suas especificidades para entender que mesmo que estejamos caminhando bem e fazendo o melhor que podemos, ainda assim há elementos aos quais não podemos abarcar e vão além de nossa ação e vontade. Infelizmente!


terça-feira, 30 de agosto de 2011

1° Encontro Projeto Ciranda Grávida

No último sábado dia 27.08 a R.A.M.A. (Rede de Apoio à Maternidade Ativa), em parceria com o PermaSer (Grupo Permacultural Ser Ecológico - http://permaser.wordpress.com/), realizou o 1° Encontro da 1° Edição do Projeto CIRANDA GRÁVIDA. Objetivando a Educação Perinatal, por acreditar que a troca de informações é de essencial importância para o processo de emponderamento das mulheres em sua gravidez e parto, tornando-as assim consumidoras e não pacientes passivas, foram discutidos os temas Parto Ativo e Violência Obstétrica. Estavam presentes tanto grávidas quanto mamães já paridas, e em especial duas destas, Rosário e Karla, com seus filhotes lind@s e saudáveis, ambos nascidos em partos domiciliares, relataram emociondas as suas experiências de partos ativos. A partir disto e também de suas experiências prévias de partos normais em hospital (com direito a todas as intervenções possíveis), pudemos fazer paralelos entre estar ativa em um parto, os tipos de violência obstétrica e a relação com situações específicas de emergência, o quadro obstétrico no Brasil e a necessidade de estar informada e se colocar enquanto consumidora com direitos que devem ser respeitados; direitos que vão além das relações de poder que infelizmente ainda existem em nosso país de mente e postura colonizada.
Mulherada em roda gestando sonhos
Improvisamos no espaço com esteiras, colchonetes e almofadas, mas o dinheiro arrecadado no dia será pouco a pouco aplicado nestas demandas. Também nos esquecemos de levar lanches, grávidas precisam comer pouquinho à cada 2-3 horas, assim fica a deixa pro próximo encontro, ok? Levemos alguma comidinha de casa e compartilhamos no final! Infelizmente o tempo foi curto e não deu pra passarmos o vídeo sobre o trabalho das Doulas, mas este tema é transversal à muitos outros e teremos oportunidades de voltar à ele. Como algumas das presentes acharam a periodicidade de 1 vez por mês pouca, estamos gestando a possibilidade de intercalarmos o Projeto Ciranda Grávida com sessões de vídeos sobre maternidade e parto, mas são gestações ainda, vamos ver como as Deusas do parto nos guiam!
Mamãe Rosário com sua cria no braço, e o forte Sananda logo atrás nos olhando.
No mais, sigamos com a certeza de que naquele dia algo de muito poderoso aconteceu dentro de nós, e pouco a pouco a plântula das sementes que plantamos juntas vai germinar e ramar, crescer, abraçar outras tantas mulheres. Agora, desfrutem do vídeo do parto natural domiciliar da loba Rosário, um belo exemplo de fêmea selvagem!!!



domingo, 28 de agosto de 2011

De onde vem seu verso, poeta?

Ê querido Manoel da Silva
Poeta-natalense-cordelista
Os teus versos são um presente celeste
Quem me dera saber um dia
A fonte de minha poesia
E tão lindamente ao Outro eu a revele







Vídeo: Yuno Silva

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

II Conferência Municipal da Mulher

Estive nos dias 23 e 24 desse mês participando da II Conferência Municipal da Mulher. Foram 2 dias interessantes, e uso esse termo porque foi a palavra mais neutra que encontrei neste momento, visto que nunca fui atraída por política e em muitas vezes a forma como tais espaços democráticos são estruturados me incomodam - objetiva-se a representatividade da gestão e da sociedade civil de forma justa em suas contribuições, mas foi visível o quanto a gestão utilizou-se do espaço como palanque político. O primeiro dia (23.08) foi praticamente só pra isto: Micarla e Rosalba roubando a cena e atrasando todo o evento, fazendo com que a sociedade civil tivesse um prejuízo imenso no seu tempo de fala. A apresentação da avaliação das ações e Políticas Públicas desenvolvidas para as mulheres à nível federal, estadual e municipal mostrou claramente o quanto a gestão está no nível teórico e idealista, e o quanto a sociedade civil organizada é quem realmente fazem as coisas acontecerem dentro das realidades específicas. A fala da Profa. Telma Gurgel foi aplaudida em uníssono, quando emocionada falou sobre a submissão das mulheres ao poder patriarcal operante, exatamente o que tinha acontecido na manhã daquele dia.


No dia 24.08 foram os dias dos GTs. O objetivo principal da II Conferência era a consolidação do I Plano de Políticas para Mulheres tendo como base o documento conclusivo da I Conferência Municipal da Mulher. Assim, pela manhã, os GTs trabalharam na re-avaliação das propostas do documento já existente, alterando-as, suprimindo-as e acrescentando novas propostas. Na plenária final, pela tarde, era o momento de cada eixo de ação mostrar as propostas aprovadas por grupo e colocá-las para votação aberta. O que fosse aprovado pela maioria, entraria no Plano de Políticas Públicas Municipal, a ser executado nos próximos 2 anos. Foi aí que o circo pegou fogo! Mais de 5 horas exaustivas avaliando proposta por proposta, ponderando palavra por palavra, incluindo e excluindo recortes específicos; uau, que complicado!

Atualmente trabalhando com as grávidas e vendo de perto as situações que elas enfrentam tanto no SUS quanto na rede particular, no que diz respeito especialmente à não aplicação de seus direitos enquanto consumidora e à violência institucional obstétrica por parte dos profissionais de saúde (e vista pela maioria como normal), me senti instigada a estar presente e levar propostas em nome do R.A.M.A. (Rede de Apoio à Maternidade Ativa) em parceria com a Parto do Princípio. Mas com cada uma levantando sua bandeira de forma tímida ou declarada, e eu me incluo nisto, sempre há aquela parte que irá sair se sentindo lesada e excluída. É difícil agradar gregos e troianos!

Conseguimos aprovar 3 propostas no eixo 'Saúde da Mulher, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos', são elas:
  • Sistematização da Capacitação de Doulas Comunitárias na Rede Municipal de Natal.
  • Sensibilização e capacitação dos profissionais de saúde para o atendimento humanizado (físico e mental) às mulheres em situação de aborto inseguro; incluindo o acompanhamento às gestantes no pré-natal, parto, pós-parto e amamentação (agentes de saúde e enfermeiras).
  • Garantir o direito de escolha, pela usuária, do tipo de parto de acordo com a Cartilha dos Direitos da Mãe e do Bebê do MS, Unicef e OMS.
Infelizmente não conseguimos aprovar nada relacionado especificamente à Violência Institucional Obstétrica, pois como fazíamos parte do eixo 'Saúde das Mulheres, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos' tivemos que incluir uma referência a este tipo de violência dentro das propostas do eixo 'Igualdade de Gênero e Enfrentamento a todas as formas de Violência contras as Mulheres' já durante a plenária final; como a maioria não estava atenta às explicações que foram dadas por nós sobre o significado do termo Violência Institucional Obstétrica, na hora da votação não se sentiram seguras de votar em algo que não sabiam o quê é exatamente. Uma pena, pois tenha certeza que muitas delas passaram ou tiveram alguém próximo que já foi vítima desta agressão tida como normatizada por parte das instituições, principalmente porque tem haver com as relações de poder existentes entre médicos e pacientes (que como o nome já diz, têem que ter paciência, e não protagonismo). A prova disto foi o relato emocionado de Sumaia Ferreira do Nascimento Silva, que teve sua filha de 15 anos vítima de violência obstétrica. "Minha filha chegou na maternidade tendo contrações e a médica de plantão fez um toque quase com a mão toda, minha filha gritou e eu chorei com a dor dela. Aí a médica falou: na hora de fazer você não chorou e nem era criança né?". Taí um exemplo típico de violência obstétrica que acontece todos os dias em todos os hospitais do país! ABSURDO!!!


Para mim foi claro perceber a existência de uma compressão múltipla sobre o Ser Mulher na sociedade por parte das várias mulheres. Há aquelas que se sentem acolhidas e defendidas por leis que são patriarcais e há aquelas que indagam de forma ferrenha tais leis e, assim, o próprio sistema vigente em si. Mas independente do seu olhar sobre a dinâmica estrutural do sistema, é nítido perceber a complexidade de cores, faces e bandeiras que estas mulheres levantam, representadas em grupos tais como GAMI, GAM, AMI, Coletivo Leila Diniz, Bandeira Lilás, etc; todas relacionadas às suas histórias de vida e aos preconceitos e dificuldades enfrentadas - lésbicas, negras, portadoras do HIV/AIDS, profissionais do sexo, viúvas, etc. Elas gritam sobre os direitos das mulheres em escolher seus caminhos dentro do sistema patriarcal, indo além das concepções tradicionais da família e da mulher em si: as escolhas sobre seus corpos (se querem vendê-los, se querem abrigar um filho no ventre, se querem tirar esse filho do ventre); o respeito sobre sua orientação sexual; a autonomia econômica, indo além da divisão sexual do trabalho, excluindo o trabalhado invisível e não-remunerado realizado exclusivamente pela maioria das mulheres; e muitas outras questões específicas que são oriundas de um processo histórico social de estupro declarado ao Ser Feminino. Ou seja, o que todas as mulheres presentes querem é ter autonomia e liberdade para existir e SER no mundo, e isto não é pedir nada, é nosso DIREITO!




domingo, 21 de agosto de 2011


O sangue sagrado sai de minhas entranhas
Meu ventre encarnado desencarna poder
Com uma força tamanha

Quer desengravidar a vida grávida
Gravada no corpo, no rosto, no poço

Mergulhando nas profundezas
Do meu ser-existir
Encontro aconchego no útero-sala
Quente e escuro
No bater compassado
Do meu coração escudo:

Tum bate, tu parte.

Pode ir, não há problemas
O colorido vermelho que meu templo emana já relembra:
Sou Deusa, grávida fêmea
Gravidez consciente que gera sementes pequenas
Tu rega, cresce assunçena
Eu rego, são quaresmeiras
Enraizando que nem tronco de Aroeira
Voando alto que nem revoada de borboletas

Aterrizar o Céu, elevar a Terra
Meu corpo é um canal
O momento é de entrega.


Escrito em 18.08.2010 e ainda atualíssimo!!!

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Rio que em mim corre...

Existe um rio que corre em mim e ora seca, vira córrego, ora enche, vira enchente. Ele - minhas emoções, meus sentimentos, minhas lágrimas, minha saliva, meu sangue (menstrual, visceral), minha libido, minhas secreções vaginais, minha criatividade, meu inconsciente - é tudo que sou, tenho e carrego de mais ancestral, o quê me conecta com a Terra e todos os elementos que a compõe. É a manifestação mais fidedigna da Deusa, da fêmea, da loba, do selvagem; é a lua que me rege por dentro e, por isso, se integra de ciclos e não-linearidade. A inconstância que sou vem das águas que também sou - e que se moldam, se doam, se retraem. Mesmo quando calma e aparentemente estática, estão em movimento: desde o mais profundo de mim as partículas iniciam uma dança, até surgir como ondas na superfície. Eu posso ser cruel, derrubar árvores e casas (inclusive a minha) com a força de minhas águas; mas também posso ser suave e fazer amor com as pedras que me habitam, acariciando a dureza e imperfeição que sou.
Sou um fluxo constante e mesmo quando calmo, a correnteza que há em minhas águas não permite que elas se represem, parem. Fazer isto seria como afogar-me, matar-me aos poucos, tirar o oxigênio que necessito pra viver. As minhas águas precisam de movimento, precisam transbordar e seguir em busca de novos rios, precisam esquentar-se com os raios do sol e não manter-se gélida, dura, intransponível.
Não me peça para ser pela metade, eu não sei ser assim. Preenchido de água ou de ar, meu cálice interno só consegue existir a partir do limite de suas bordas ou para além delas, nunca menos que isso. Esta sou eu, quer você queira ou não! Me pedir para dosar à conta gotas o meu amor é como me pedir para represar o rio que sou; e eu não quero e não acredito que o meu rio tenha que deixar de fluir. Mas minhas águas a partir de agora voltarão a fluir rumo às florestas quentes e úmidas onde habitam minhas raízes, bem longe das montanhas frias e secas de suas origens.


Foto: Gustavo Paterno - www.midiativismo.wordpress.com

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

A força da Loba que há em ti

Quando você fechava os olhos, para onde ias? Quando a dor chegava feito ondas, onde você se acarinhava? Longe de minhas mãos, longe da imensidão de tua mente, dentro de teu corpo que se entregava, havia um lugar sagrado pra te acolher? Em outra dimensão, em outro plano, em outro tempo, em outro espaço...
E todas aquelas emoções guardadas, onde estavam? No seu ventre, no seu coração, na sua garganta (em forma de nó), em suas mãos? Nos seus olhos que choravam ao recordar do passado, nas lágrimas que lavavam teu rosto com as expectativas do futuro, no sorriso que te inundava junto com todas as sensações daquele presente. No escuro e profundo do teu inconsciente, que durante aqueles momentos intensos jorravam e afloravam para a superfície que também és e te habita.
Era teu filho que te comunicava, teu filho que trabalhava para vir ao mundo. Era a força da Loba que há em ti, o animal selvagem que és, que somos e que nos une enquanto mulher. Era tua vontade de continuar e realizar um sonho, tua mestra interior que segurava tua mão e que te falava ao ouvido - siga, siga, você é capaz!
A sabedoria está no corpo e você é uma guerreira! Acreditar é essencial e você me ensinou isto! Talvez eu tenha desacreditado em algum momento, não me conectado à força da Loba que há em mim, e por isto não estava ao seu lado quando a cabeça coroou e o Vitor rompeu entre os dois mundos - morrendo e renascendo neste Universo. Eu consigo ver seu sorriso de felicidade, sua alegria e sua realização; e espero imensamente ter ajudado!


Com amor à Luciana e Vitor, pela força de um trabalho de parto de mais de 48 horas, uma indicação de cesárea nas últimas horas, e um parto vaginal no fim depois de uma cesárea anterior!

domingo, 7 de agosto de 2011

Peito que te quero cheio


"Quando seu bebê chorar à noite, guie-se pela penumbra da casa até encontrá-lo e finja que está vivendo numa caverna, em algum clã de uma Era remota. Surpreenda-se por tê-lo deixado longe de seu corpo, exposto ao frio. Não há mamadeiras, nem geladeiras, você não tem fogão. Entenda que o drama da existência de um bebê em sua vida nada tem a ver com chocalhos, bibelôs ou chupetas. Você precisa salvá-lo, defendê-lo de feras e em breve o amarrará em seu corpo para ir à floresta. Só você pode salvá-lo, com seu leite, seu corpo, seu calor. Somente você pode fazer dele uma criatura forte e destemida e isso ocorrerá pela viagem dos hormônios em seu corpo, eles levarão as mensagens por meio do seu leite e de suas atitudes. Parir e amamentar é coisa do eu antropológico em nós.Você só está aqui porque uma linhagem de mulheres e homens um dia, lá atrás, salvaram-se, naturalmente, na luta pela sobrevivência. Todo o resto civilizado é prazer que podemos desfrutar. Não deixe que a beleza da civilização, que todos os ganhos culturais que obtivemos te faça fraca e infeliz por ter uma linda criança nos braços."

Por Cláudia Rodrigues, extraído do blog maternagemnatural.blogspot.com
Minha homenagem à Semana Mundial do Aleitamento Materno!!!

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Vida-Morte-Vida


Não tenho tido inspiração pra escrever, e me pergunto: pra onde está indo o meu poder criativo que ora transborda feito avalanche, ora seca feito chão rachado do sertão? Existem várias maneiras de criar, e criando o Outro (pessoa, objeto, pensamento, emoção), nos criamos juntos. Quando me encontro em dias escuros, onde os pensamentos estão confusos e as lágrimas vertem dos olhos feito cachoeira no Cerrado, me sinto também criativa, mesmo que no momento da vivência a negação exista - abre-se o chão, eu me afundo mais, enquanto a morte se encontra no canto do quarto, risonha, me seduzindo à dançar. Eu reluto à morrer, mas quando morro, me crio tão fantasticamente, feito Deusa grávida que dá à luz ao seu consorte, fazendo em seguida amor com ele, gerando vida! A morte é criação!
Nos últimos meses tenho morrido diariamente! É como se estivessem apertando o cordão umbilical que permite que o sopro vital entre em minhas entranhas, é como se estivessem arrancado de mim uma parte da placenta que nutre o ser que estou constantemente gestando, é como se algo duro e frio empurasse minha barriga em forma de lua cheia, impedindo-a de crescer mais e mais e mais.
O amor me torna grávida: de vida, de morte, de riso, de lágrima, de gozo, de dor. Sou um turbilhão de sensações e, mesmo que eu tenda a não sentí-las como elas merecem, nos dias de escuridão é como se algo estivesse sendo tirado de mim, me sinto vazia, nua, crua, dilacerada. Quando o dia vem chegando e os primeiros raios de sol tocam meu corpo desnudo, me excito ao me supreender com tanto amor que habita o vazio do meu ser-existir. O amor que é dor, que é distância, que é morte, que é negação, e que também é o oposto de tudo isso!
A loba que me habita sabe por onde caminhar, sabe como agir, sabe porque chora; ela é intensa, forte, capaz, selvagem. Ela sou eu, é minha carne, meu sangue, meu ventre, meu coração, minha psique, minha alma. E ela quer voltar a uivar, correr nas matas de minhas entranhas e beber água dos rios de minhas veias que pulsam morte e vida. Como posso negá-la isso?
Não consigo, me entenda, eu não posso negar a mim mesma o direito de morrer e de viver! Não é falta de amor, é amor desmedido! O nosso amor que habita meu ventre e quer explodir em milhões de constelações, em várias sensações, em múltiplos corações. Ele quer se salvar, acredite!