Aqui habita uma sensação estranha do surgimento de algo novo, estranha e reconfortante sensação. Pois ao mesmo tempo que é novo, é também muito familiar, e parece de fato um retorno ao lar. Dias intercalam entre confiança e insegurança. Talvez porque uma bela amiga muleta foi deixada pra trás, e ao mesmo tempo que me sinto excitada por isto, já que há muito esperava por este ocorrido, me bate uma nostalgia de alguém que eu acreditava ser.
Tenho saudades do tempo que fui mata, vento, rio, sol, lua, pássaro, mar. Sinto uma necessidade quase vital de desfazer-me e recompor-me dia após dia. Estive agora conversando com uma amiga, a mangueira que em minha casa habita, talvez a amiga mais presente neste momento de minha vida. É ao som de suas folhas balançando ao vento que me recolho à noite, é com o canto dos passarinhos que nela se aconchegam que acordo de manhã, é no verde de suas folhas que vejo o céu virar musgo, é no doce de seus frutos que amarelo minhas vontades tão verdes, mesmo que queiram ser maduras na maioria das vezes. Conversamos sobre essa coisa de viver, de estar encarnada, de querer virar mata e redemoinho de areia dunar. Gratidão imensa eu sinto por ela, por me permitir encostar o corpo cansado do mundo mundano em seus troncos, e me fortalecer com a sabedoria que há em sua simplicidade de existir. Ser árvore deve ser bom. É, eu lembro, é maravilhoso! Essa coisa de estar ao mesmo tempo dentro da terra e dentro do ar, e não se deixar cair mas ainda assim se permitir voar...
Eu tenho me sentido um pouco árvore esses dias. Mesmo em dias de ventania, se caso minhas folhas caiam e só flores permaneçam à vista como meus amigos Flamboyants, as raízes estão firmes e bem ancoradas no que há de mais sólido - a terra! Êh, terrinha sagrada essa! Que tudo dá, sem pedir nada em troca. Que tudo recebe, nos acolhendo com amor mesmo quando damos injúrias e desrespeitos. Não há maior prova de amor, não há, e venho me espelhando nessa dança de amor da natureza a cada volta circular do avô sol.
Eu Sou Amor! Sou como nunca fui ou como nunca tive consciência de sê-lo. Amo como nunca amei. E só podemos dar ao Outro áquilo que possuímos no mais interno de nós mesmos. Antes eu dava na busca de preencher o vazio que habitava meu ser. Hoje eu dou porque estou abundante por dentro. Assim, o fluxo energético se faz sem que haja razões para estar carente do que habita fora. É tão bom compartilhar com o Outro, mas melhor ainda é poder compartilhar consigo mesma e ainda assim sentir o Outro próximo, mesmo que não presente fisicamente. Nos fusionamos constantemente, nos mesclamos, nos misturamos, mas é sábio saber separar o joio do trigo - o que é seu, é seu, e o que é do outro, só a ele pertence. Que não esqueçamos de honrar as presenças divinas que somos e se espelham em cada ser de luz que por nós passar, e que tenhamos o respeito e o cuidado como norte para criar terreno fértil para o amor germinar e frutificar. Pois como as nossas irmãs árvores, filhas da Grande Deusa, também o somos, e só cabe á nós fazermos nosso poder interno ecoar e ser vida aqui e agora!
Aha! Assim é, assim é, assim é!