"É tempo de se falar, mostrar e compartilhar o conhecimento das mulheres, de uma maneira mágica, mística. É tempo de as mulheres descobrirem mais sobre seus próprios mistérios - seus processos de mesntruação e nascimento e os ciclos de suas emoções. É tempo de compartilhar isso com os homens. Muitas mulheres dizem: 'O que posso compartilhar? Eu mesma não compreendo.' Bem, é tempo de elas se voltarem para dentro de si mesmas e dizer: 'O que é isto que estou sentindo? Se tivesse de explicar a alguém o que é ser uma mulher, o que diria? O que posso fazer para me tornar mais como deusa num corpo de mulher - mais uma criadora de magia?' A Deusa interior é aquela que sabe - que leva informação de um sistema para outro."

Terra: Chaves Pleiadianas para a Biblioteca Viva - Barbara Marciniak

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

2° Encontro Projeto Ciranda Grávida


Aconteceu no último sábado (24.09) o 2° Encontro da 1° Edição do Projeto CIRANDA GRÁVIDA, com o tema “Aspectos fisiológicos, emocionais e espirituais da gravidez”. Iniciamos o encontro nos apresentando e ouvindo um pouco sobre as histórias de vida dos presentes - 4 mamães em gestação, sendo uma delas acompanhada do maridão. Como 3 eram mães de primeira viagem, discutimos bastante sobre as várias facetas da gravidez com base em suas próprias experiências iniciais e dúvidas. 



Alguns dos temas levantados foram os desconfortos da gravidez e alternativas não-farmacólogicas de alívios; alimentação para gestantes; além de reforçar mais uma vez sobre o processo de fortalecimento da mulher durante a gravidez, buscando informações e questionando sempre, se colocando como consumidora desde o início até o momento do parto. É importante reforçarmos tal questão pois há uma tendência em optar-se pelo parto humanizado com base em um modismo já notável, sendo que ter uma doula não é indicação de que o parto será natural. A mulher tem que assumir as rédeas da situação ou então transferirá para este outro profissional seu poder, agindo do mesmo modo que já faz com os médicos. 

Dessa vez levamos comidas e durante o bate-papo compartilhamos frutas entre todos. Sempre de forma descontraída e informal, os presentes se sentiram bem acolhidos e nutridos em suas perspectivas. Nos da R.A.M.A. estamos muito felizes pelo sucesso do projeto CIRANDA GRÁVIDA e esperamos que outras mulheres possam cada vez mais ter acesso à espaços como estes. No que depender de nós, o faremos aqui por Natal! Contamos com sua ajuda na divulgação deste projeto; qualquer dúvida, entrem em contato conosco!

terça-feira, 20 de setembro de 2011

O Uivo da Loba


Existe um ser animal que reside em mim, em você, em todas nós, e que clama por não silenciar. Existe um lado para além da razão, comandado pelo instinto, pela intuição, pelo sexto sentido ou qual seja o nome que você queira dar a essa força que vem de dentro - uma força felina, canina, equina, primata - nossos irmãos de quatro patas. É exatamente assim que nos sentimos quando em meio ao êxtase hormonal nos encontramos lado a lado com o selvagem que nos habita - as garras ficam à mostra, os dentes brilham no escuro - seja no período menstrual, seja no ato sexual, seja no parto, a mulher carrega dentro de si uma loba  pronta para uivar e gozar pra lua. Podemos manifestar várias faces desta loba mas podemos também trancá-la e privá-la do mundo, sufocando-a, matando-a pouco a pouco. A maioria das mulheres fazem isto, se privam de acessar ou de manifestar o que já sentem que são e pulsam dentro de seu ser, simplesmente porque não acreditam que agir assim seja correto, pois o dogma cristão é carregado de culpa e a mulher está no cerne disto por ter cometido o pecado original. Desconsidera-se os mecanismos fundamentais da vida, que nutrem e dão prazer à existência, como sendo atos sagrados, mas sim cheios de pecado e profanidade. Desconsidera-se inclusive que o profano é sacro em sua totalidade. 

Quando escrevo tudo isto, estou afirmando pra mim mesma tais coisas. Mesmo que me sinta algumas vezes perto da loba que há em mim, em outros momentos ela está distante. Tive uma educação cristã e no meu inconsciente ainda reside muitos resquícios negativos e auto-negadores. Hoje estou buscando desprogramar e me re-educar tendo como base outros conceitos e visões do mundo e das relações. Intelectualmente as coisas me são claras, mas na prática existem memórias que carrego e que muitas vezes me colocam inconscientemente a repetir um padrão no qual eu estou imersa, seja familiar ou social como um todo. É aí nestes momentos que a loba é silenciada, anulada e privada de uivar. 

Hoje eu participei de um parto emocionante de uma menina de 16 anos que não sabia se era loba feita ou um filhote chorão, mas que mesmo quando chorava e queria unicamente a presença da mãe segurando sua mão, ainda assim havia a loba feita ali, uivando, querendo um lugar seguro e tranquilo para trazer seu filho ao mundo. E ela conseguiu, sozinha junto com seu filho. Ela e ninguém mais. A loba que habita seu ser que veio à tona, que alterou sua consciência, que a anestesiou, permitindo que mesmo no expulsivo seu corpo amolecesse, fosse de cansaço, de prazer ou de embriaguez. Quem saberá?

A loba que trago dentro de mim e a loba que me acompanha fora de mim (meu animal de poder que me protege sempre do lado direito) reconhecem quando uma mulher está em seu momento loba, uivando, seja de dor ou de prazer, seja de alegria ou de tristeza, seja de raiva ou de êxtase. As lobas têm muitas faces e nós carregamos todas elas, por isto que nos identificamos quando nos vemos refletidas nos espelhos espalhados por aí. Somos filhas do mesmo chão - a memória ancestral que há em nosso sangue nos une, nos nutre e nos identifica enquanto fêmeas. Gritando ou cantando, nosso uivo não pode e não deve ser silenciado - nem por nós mesmas e nem por ninguém!

domingo, 11 de setembro de 2011

Cestas de Carga


Mais uma vez venho lhes falar de teias, tramas. Além das pontes conectivas que criamos e alimentamos neste mundo da matéria, há ainda as teias que trazemos de nossa trajetória espiritual, e que por sua vez se refletem aqui; assim, vendo em uma ótica holística e inteira, podemos falar em teias conectadas pelo mesmo fio condutor. Imaginem vocês que depois de 3 anos da minha vida pedindo quase todo santo dia à Deusa para que minha missão nesta encarnada me fosse apresentada, eis que estou bem diante dela e mais uma vez tive uma prova de que o caminho é este e preciso me entregar, confiar, aceitar e agradecer, agradecer. Não que antes eu não acreditasse nos sinais que a Vida constantemente me manda, mas acho que a dificuldade que eu tenho em assumir compromissos me coloca sempre a deixar um pé enraizado e o outro alado, pronto a lançar vôo.  

Me mudei para um lugar tranquilo, a duas quadras do mar. Hoje acordei cedo, vi o sol nascendo no mar da minha cama, e depois fui banhar meu corpo com seus raios na varandinha do meu quarto. Eu me identifico com as casas perto da prainha porque elas parecem leves, sem muito móveis, e eu sempre gostei de poucos móveis na casa; gosto de improvisar armários com caixas e prateleiras com madeiras que encontro por aí. Prefiro as coisas á vista, perto de minhas mãos, fáceis de pegar; e geralmente mudo tudo de lugar a cada mudança de lua.  Eis que vim parar em uma casa já mobiliada, com móveis de madeira pesados e difíceis de locomover.  Minhas coisas agora estão a maioria dentro de armários, longe dos meus olhos, escondidas de mim mesma. Costumo sempre fazer leituras simbólicas das situações em que me encontro e acho que é hora de enraizar e vasculhar o que há dentro de meus armários internos, aquelas coisas empoeiradas que sempre deixo pra limpar depois. Toda vez que tenho que abrir uma porta de armário pra tirar algo que vou usar, penso que estou tendo a oportunidade de abrir portas dentro de mim. No silêncio que aqui reina, com o som do mar ao fundo, estou tendo a chance de identificar para onde direciono os meus próprios boicotes diários.

Um dia desses na aula de renda, conversando com uma aluna nova - eu falando sobre as buchudas - ela me perguntou com que eu trabalhava e eu disse que trabalho com mulheres grávidas e com resgate de ancestralidade. Estas últimas palavras sairam da minha boca sem nem ao menos eu pensar; quando as entoei, senti o peso das mesmas e me perguntei se eu estava preparada realmente para isto. A gente acha que nunca está pronta e de fato nunca estamos e nem estaremos, a vida é um eterno aprendizado. Mas o fato de ter dito isto me fez refletir: resgate de que ancestralidade e de quem? Porque a sensação que ás vezes tenho é que estou constantemente resgatando a mim mesma quando me encontro com os poços de sabedoria infinita que por aí existem (Graças á Deusa). E eu sei que é exatamente isto! O trabalho que se estende pro Outro nada mais é que um aprimorar-se individual. Quando mais perto da luz, caminhando na estrada que é nossa, maior é a sombra apresentada para ser transformada.

Nossos processos cármicos estão intricados com os carmas das pessoas que se apresentam em nossos caminhos, e muitas vezes elas nos ajudam a aliviar nossa cesta de carga sem nem ao menos se darem conta, e outras vezes elas carregam ainda mais esta cesta, estimulando a manifestação de nossas sombras simplesmente para que não esqueçamos que somos feitos dos dois extremos: imperfeitamente luz e escuridão. 

Estou aprendendo a arte de partejar e na grande teia da vida, que é este plano e para além dele, os nossos compromissos são assumidos antes mesmos de encarnarmos e sempre com um propósito maior. A minha teia individual se cruza com a teia de outra pessoa exatamente neste ponto, e eu estarei aliviando a cesta de carga dela a medida que caminhar pela estrada que é minha. Isto me traz ainda mais a certeza do compromisso que possuo e acho que já é hora de assumí-lo, abraçá-lo e honrá-lo.

Assim como as teias, as cestas são feitas de tramas. Quando bem trançadas, resistem muito peso e duram uma encarnada inteira. Cada pessoa possui uma cesta de carga onde carrega exatamente o quê pode carregar. Cada um coloca o que for de seu agrado e necessidade lá dentro e assume as cargas que trouxe consigo de outras vidas. Cada um sabe seu limite individual. Cada um sabe onde deve pendurá-la. Cada um decora ela da forma que melhor quiser. Pode acontecer da cesta ficar pesada, da gente querer carregar peso que não é nosso, ou então de querermos depositar nossos pesos nas cestas de outros; eu mesma fiz e ainda faço isto, mas devagarzinho acha-se o peso certo para a medida correta. Talvez dure uma vida inteira pra isto, ou mais de uma, o importante é não parar a busca!

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

A vida é teia



Estive refletindo sobre o sentido do sagrado. Nesses dias que se passaram, ouvi falas de pessoas fortes sobre suas histórias de vida e indicações do sacro que habita seus corpos, sejam eles quantos forem e para onde se estendem.  Todas elas estavam baseadas em suas memórias: positivas ou não, temporais ou não, espaciais ou não, empíricas ou apenas teóricas, pouco importa, são memórias. Eu sou cheia delas! Ás vezes tenho a sensação que conheço pessoas que estou vendo pela primeira vez, mas que em algum lugar de minhas memórias me são familiares; em outros momentos saboreio uma canjica daquelas que derrete na boca e volto para os dias de São João de minha infância; há ainda os instantes em que me identifico na palavra e olhar do Outro, e ao me encontrar neles vejo o quanto existe uma sabedoria inata e ancestral que nos une e o quanto os nossos aprendizados, sejam eles oriundos das mais diversas e diferentes situações, tendem a nos conduzir para esta sabedoria, basta que estejamos abertos a reconhecer a humanidade que habita a divindade que somos.

Conversando com alguém sobre o sagrado feminino, me deparei com a seguinte pergunta:
- E como está o seu sagrado feminino?
- Cada vez mais sagrado, disse eu.

Depois de alguns segundos refletindo sobre o sentido do sagrado para cada um, perguntei:
- É sobre o sangue menstrual que você está falando?, tentando encontrar alguma pista do quê era sagrado pra ela.
- Não, sobre o pecado de Eva mesmo! disse ela e se calou.

Passei vários dias tentando decifrar o tanto de sacralidade que estava associada à palavra pecado para esta pessoa. Para ela, que teve gravidezes complicadas, um parto terrivelmente dolorido e um mioma no ovário que resultou em uma esterectomia, se considerar pecadora pode ser uma forma de confortar seu coração de mulher cristã. Para mim, que tive uma educação cristã, mas que encontro o sacro em outras religiões e manifestações espirituais, o sagrado pode sim se aproximar do conceito do pecado, mas simplesmente porque o próprio conceito cristã de pecado é uma deturpação da sacralidade ancestral, exatamente àquela sabedoria que nos une e que falei antes.

A alguns dias atrás encontrei uma outra mulher, com uma história de vida particular, mas com um conceito de sagrado oriundo do sofrimento que tem como base um aprendizado positivo e não martirizador. Ela também teve que tirar seus ovários e útero por causa de um cancêr, e depois de alguns anos pra entender os ensinamentos que isto estava te trazendo sobre a vida como um todo, depois de superar a angústia de não poder ser mãe, esta mulher resolveu ser feliz e agradecida à vida pela própria vida em si, com sua multiplicidade de fatores e peculiaridades. Ela decidiu deixar de lado a culpa, que à liga ao passado, e o medo, que à liga ao futuro, ambos tempos inexistentes, e começou a atuar ativamente no presente, o único tempo que existe e que ela pode influenciar  realmente. Ela resolveu não dormir com nada dentro dela, não alimentando nenhum sentimento ou emoção que possa a fazer adoecer de novo, em qualquer um dos níveis – físico, emocional, mental, espiritual. Assim, ela é sincera, doa a quem doer, e vive a sua vida da forma que acredita e quer, sem estimular prisões mentais. É uma mulher fortíssima, lindíssima, com a força da mulher selvagem correndo nas veias.

Um amigo me falou que precisamos agradecer mais, e percebi o quanto eu sou agradecida à Vida, o quanto agradeço sem nem ao menos pensar, em minhas ações rotineiras; mas, assim como os ritos de passagem, os ritos de agradecimento à algo são de extrema importância para que possamos abrir energeticamente os nossos caminhos e permitir que a onda flua, siga, e não estagne. Se plantarmos flores mas, ao invés de regá-las com amor e cuidado, dedicarmos um mísero tempo de nossas vidas atribuladas à elas, tornando rotina aquilo que é encantado e mágico - a semente saindo de sua dormência e brotando lindas mandalas florísticas – colheremos apenas cores fracas e sem vida.  

Dentro de toda esta reflexão do sagrado que somos e nos habita, e é a vida que nos rodeia, novamente me deparo com a teia: das aranhas, das tecelãs, das parteiras (tecedoras dos dois mundos) - nossa teia que abriga nossas memórias, nossas histórias de vida e nosso olhar sobre o Universo!

Somos um círculo, dentro de um círculo – sem princípio e sem final!

domingo, 4 de setembro de 2011

Menarca

 O ciclo da mulher, que antes era menina, se inicia com a cor encarnada do sangue. 
Seu útero cheio de vida chora, não de tristeza, mas de alegria, ao celebrar o começo de um novo caminho repleto de rosas vermelhas, cheio de perfumes e às vezes espinhos.


Muitas pessoas desconhecem a palavra Menarca, mas é assim que chamamos o momento da primeira menstruação de uma mulher. Na sociedade moderna tal período é visto apenas biologicamente, onde a menina deixa a infância e inicia a vida adulta e, assim, seu ciclo reprodutivo. Ocorre variações hormonais que maturam os folículos ovarianos em óvulos; devido a não fecundação dos mesmos, as paredes do útero (endométrio) que estavam se preparando para receber o óvulo fecundado descamam, e é exatamente daí a origem do sangue menstrual. Os valores patriarcais deturparam a sacralidade da menstruação e colocaram-na como um período de impureza da mulher, causando muitas vezes vergonha por parte das meninas durante a menarca. 

Em algumas sociedades tribais, por sua vez, onde tais momentos de transição eram considerados sagrados, haviam rituais de iniciação e celebração para honrar o sangue e o início de um novo ciclo. As meninas se isolavam com as mulheres maduras para serem orientadas sobre os mistérios e segredos que rondam o sangue menstrual, e no retorno eram acolhidas por toda a tribo com festejos. A partir daí, tais mulheres poderiam se juntar às outras durante seus períodos em tendas (Tendas da Lua, Tendas Vermelhas, etc), onde permaneciam em isolamento, devolvendo seu sangue pra terra, tecendo, massageando umas às outras, passando à sabedoria ancestral das mais velhas para as mais novas e recebendo mensagens dos outros planos. Para estas comunidades, as mulheres possuíam um poder especial neste período e, assim, estavam fortemente intuitivas e capazes de se conectar com forças do além. Nós, enquanto mulheres maduras e sangrentas à mais tempo, podemos sim resgatar tais costumes celebrando a menarca de nossas meninas como um momento de especial força, onde o amor da Grande Mãe está brotando de seus úteros, permitindo que elas amadureçam pouco à pouco neste caminho do Ser Feminino. 

Ontem eu celebrei a menarca de uma bela menina! Presenteei-a com uma pedra (representando a pedra da menstruação) que eu trouxe do Lago Titicaca, na Bolívia, um dos lugares mais lindos e poderosos que já conheci. Ela também recebeu flores, chocolates e vários bilhetes de incentivo à alegria e orgulho por este momento sublime e cheio de vida. Mesmo estando longe, eu espero que ela tenha se sentido acolhida, amada e nutrida por todas nós, as mulheres de sua família!!!