Existe uma tríade estrutural que compõe o processo do parto e que é de extrema importância para o caminhar do mesmo dentro dos termos natural e humanizado. Em primeiro lugar, e talvez o mais importante dos elementos, temos a mulher grávida. Esta carrega uma complexidade de fatores que vão influenciar no desenrolar de todo o evento, sejam eles as impressões culturais e sociais do seu contexto específico, sua história de vida e todos os elementos emocionais que se encontram em sua psique, a estrutura familiar em que ela se encontra, o seu entendimento do parto em si, o seu posicionamento enquanto paciente ou consumidora nesta situação, e assim se ela está informada ou não, etc. No outro pólo desta tríade, temos o profissional que irá ajudar esta mulher a trazer seu filho ao mundo, seja ele médico, obstetriz, parteira, etc. Para este elemento existem alguns fatores que devem ser levados em consideração, em especial na sua formação em si, ou seja, como estes profissionais foram ensinados dentro da academia sobre o evento do parto, o que vai influenciar por sua vez como eles vêem a mulher grávida e como eles se posicionam frente à elas. Por fim, para fechar a tríade estrutural, temos o lugar onde o evento do parto irá acontecer - hospital, casa de parto ou domicílio. Aí devem ser levados em consideração os fatores de rotina ou não que podem estar influenciando o desenrolar desta trama que é o parto. E falo trama no sentido da complexidade de elementos dentro destes 3 elementos expostos, visto que muitos deles são questões subjetivas e paradigmáticas e por isto vão além das previsões. Em uma teia, quando qualquer um dos fios é tensionado, todo o resto reage à isto, e é exatamente o que acontece no momento do parto.
Eu, enquanto doula, me sinto mutilada e extremamente frustada, independente do resultado do parto, porque no final das contas a mulher estava tomando uma decisão camuflada de todas as formas pelo médico de que não havia outra escolha. O que me faz refletir dentro de todo este quadro é o quanto estamos lidando com uma questão de paradigma nesta teia complexa que é o evento do parto e o quanto é preciso que todos os elementos que compõe a tríade estrutural mude seu paradigma e a forma de ver o mundo; não porque a única e melhor alternativa seja o parto domiciliar, natural e humanizado, e optar por isto é está mudando de paradigma, não! Aliás, temos que saber o limiar tênue dessas escolhas, para que elas não se baseiem em modismo, mas sim na aceitação de que o parto é um momento de transformação e que a mulher precisa estar preparada pra isto. Falo de mudança de paradigma à nível interno, com a mulher se colocando como protagonista do processo, se informado e estando pronta à lutar por seus direitos, e os profissionais e estruturas de saúde respeitando isto.
É preciso desdramatizar as situações e suas especificidades para entender que mesmo que estejamos caminhando bem e fazendo o melhor que podemos, ainda assim há elementos aos quais não podemos abarcar e vão além de nossa ação e vontade. Infelizmente!